sexta-feira, 28 de março de 2014

Olháá mudança da hora!

Não se esqueçam que é já na madrugada de sábado para domingo que muda a hora.
Em Portugal continental e na Madeira, à 1h da manhã adiantamos o relógio para as 2h. Nos Açores a mudança é feita à meia-noite.

Na Europa, a mudança da hora começou durante a Primeira Guerra Mundial, com o objetivo de poupar combustível.
Em 1992 adotámos o horário da Europa central. Era bom, para viajar pelos países mais próximos sem andar a mexer no relógio, mas a opção foi pouco consensual porque a luz do dia chegava muito tarde no Inverno (e quem é que nos arranca da cama quando ainda é noite escura e está frio na rua?). Já no Verão podíamos jantar na praia e ainda ler o jornal a seguir. Era de dia quase até às dez! Uma maluqueira.
Em 1996 foi reposta a hora antiga e assim se manteve.

Eu adoro a hora de Verão.
Adoro quando os dias são mais compridos e ainda saímos do emprego com tempo para ir ao ginásio e sair com um fio de luz. Isto, claro, quando se consegue sair cedo e para quem não fica às três horas no ginásio a dar no ferro. Eu não fico.
Adoro os finais de dia na praia, quando o Sol está para se pôr, e as gaivotas se começam a juntar à beira da água.
Se eu pudesse mandar, mandava que fosse sempre Verão. Até podia chover, mas só nos campos de cultivo e nas hortas caseiras e em cima de quem gosta. “Ai gosta do tempinho cinzento? Então tome lá esta nuvenzinha que o vai acompanhar o resto da semana, mesmo por cima do toutiço”.

Portanto, para quem não tem só aparelhos eletrónicos - daqueles espertos que nem um alho, que fazem o acerto sozinhos -, a tarefa é mesmo manual.

No meu caso, com a quantidade de relógios de pulso que vivem lá em casa (adoro), vou reservar todo o domingo para essa tarefa.
(não vou nada: faço isso num esfregar de olhos e depois fico alapada no sofá, só a existir)
(não fico, vou à Corrida do Benfica)
(a menos que esteja a chover pedra)
(ou mesmo se chover muita água)
(nesse caso fico em casa porque não gosto de me molhar)
(talvez aproveite para tomar um banho de imersão)

Agora, sim, bom fim-de-semana!

De facto...


A guerra feita por soldados nus cheira a peixe

O título era “Rússia apodera-se do exército ucraniano de golfinhos”.
E eu pensei “Não…”.

A primeira frase do artigo dizia “Uma elite de golfinhos altamente treinados para desempenhar tarefas militares na Marinha da Ucrânia, como a deteção de minas submersíveis ou o combate a veículos invasores, pertence agora às forças russas”.
E eu levei a mão à testa, abanei a cabeça, incrédula, e pensei “Elite de golfinhos? Não…”.

Umas linhas abaixo, continuava. “Com a anexação da Crimeia pela Rússia, os animais são agora propriedade das forças militares russas, que deverão continuar com o programa – que também treina leões-marinhos para fins militares”.
Já de queixo encostado ao teclado, soltei “Leões-marinhos para fins militares?!"

E quando os meus olhos bateram nestas imagens, saiu-me um robusto “F*da-se!”

  

Depois de séculos a recrutar cavalos, mulas, cães, porcos, elefantes, camelos, morcegos, pombos e ratazanas (sim, sim, ratazanas amiguinhas, hum, tão fofinhas), e atribuir-lhes tarefas de transporte e/ou de deteção de minas e/ou missões suicidas (que melhor dizendo, são homicidas porque o desgraçado do animal não sabe ao que vai), as forças armadas chegaram aos mares para alinhar esta malta nos seus exércitos.

Mas está tudo parvo?

Nem vou falar das óbvias questões éticas. Parecem-me por demais evidentes. Falarei, sim, de outra problemática que me inquietou e que estou segura que se alapará à vossa alma, depois de hoje.

Então alinham estes soldados para o combate e não se lhes arranjam uniformes? Mas que raio de forças armadas são estas? Ninguém espera ver um magala no expresso das sete para Viseu todo nu, pois não? Então por que é que quando o Flipper vai visitar a mãe tem que ir em pelota?

“Ai e tal, isso é parvo porque os animais não usam roupa”. Ah, mas recrutá-los à força para guerras estúpidas (perdoem a redundância), já pode ser, não é? E se vai ser esse o vosso argumento, tomem lá.

 


 

 

Portanto sobre a roupa, estamos conversados, certo?

Então não se arranja um fatinho de banho, um speedo ou umas bermudas, para a malta da marinha animal, porquê? Temos cá distinções, é? Aos cavalos da Guarda Republicana até tranças na crina lhes fazem. Com os leões marinhos, que têm que andar com a genitália à mostra, sujeitos a serem gozados pelo inimigo, ninguém se importa. Está mal!

E o uniforme de gala? Não me digam que se houver uma festa da Messe dos Oficiais vão abrir uma exceção ao dress code só por causa da elite dos golfinhos. Não acredito. O mais certo é serem discriminados e acabarem todos barrados à entrada por quatro pastores alemães da GNR.

E dizem vocês “Mas ó Mulher de Sonho, sim senhor, estas são questões pertinentes, mas este texto está um bocado estranho… Tens a certeza que andas a dormir bem?”.

E respondo eu “Shiuu, calem-se, que estou a tentar ouvir este ensemble de saxofones da Banda Militar dos Crustáceos da Marinha”.

De maneiras que ainda bem que amanhã é Sábado.
Tenham um excelente fim-de-semana, sim?
 

quinta-feira, 27 de março de 2014

Porque às vezes os gases intestinais salvam vidas

É sempre um momento de alegria e pânico quando colegas de trabalho levam bebés ainda frescos a conhecer o escritório.

Dois ou três meses depois do nascimento é quase matemático. Ovo ou carrinho, sacos e bolsas, uma girafa de peluche, olheiras até ao umbigo e o ar mais feliz do mundo por estar novamente entre adultos (também pode ser histeria nervosa, da privação de sono).

Normalmente os corredores enchem-se de mulheres, tudo debruçado para espreitar a nova vida, num chilrear colorido e agudo, audível do outro lado da estrada.

É um momento de alegria porque estivemos sem nos ver alguns meses. Vamos acompanhando a gravidez (nuns casos com maior proximidade, noutros só a evolução das barrigas e diâmetro dos tornozelos), falando sobre as várias etapas, as ecografias, os testes, as expectativas, e agora, finalmente, ali está o produto de tanta agitação e bacalhau com smarties às três da manhã.

Normalmente são as mães de primeira apanha que correm a partilhar o fruto do seu ventre. Quando são segundos ou terceiros filhos só os conhecemos na festa de Natal da empresa. Ou nas férias da Páscoa, no primeiro ano da escola.

Como não tenho filhos, sou sempre a escolhida para pegar na criança. Insistem que “tenho que treinar”. E é aí que entra o pânico.

A sério? Querem MESMO que seja alguém que tem tanto jeito para pegar em bebés como para dançar o can-can depois de três copos de sangria, que segure na coisa mais preciosa da vossa vida? Mesmo? É que para mim todos os bebés são feitos de sabão. Sinto que, quanto mais os apertar - para garantir que chegam à idade de andar (e com essa capacidade intacta) -, mais eles vão sair disparados contra a grelha do ar condicionado no teto.

Quando me passam a criança, os meus braços avariam automaticamente. Perdem a capacidade de dobrar pelo cotovelo. Fico com duas pás agarradas às omoplatas, tesas e paralelas, e um puto com cara de espanto, pendurado pelos sovacos, lá na ponta.

Garanto sempre que a criança é mantida a uma distância que assegure que: a) não vai bolsar para a minha boca e b) se a deixar cair ainda consigo ganhar alguma distância e acusar outra pessoa.

Enquanto faço de cabide humano, vou choramingando que não sei fazer aquilo e que peloamordedeus alguém a agarre antes que eu me desgrace. Mas por mais que as mães digam que não há maior amor no mundo, parece que secretamente querem que eu as livre daquela responsabilidade. Ocupadas a falar com outras mães de temas tão absorventes como gretas nos mamilos, ignoram os meus apelos cada vez mais desesperados.

É só quando o bebé, exasperado de tanto desconforto axilar, abre a goela ou apresenta argumentos de peso (ao nível dos sólidos), que alguém nos acode.

Temo que da próxima vez que me passarem um recém-nascido para as mãos, me sentirei tentada a soltar discretamente um gás.

Sou uma senhora, mas não funciono bem com este tipo de pressão.


quarta-feira, 26 de março de 2014

Sou tão mulher #4

Sei quando está na altura. Sinto na forma como se comporta, nos jeitos que tem ou nos que não tem. Parece mais pesado e acusa a passagem do tempo. Às vezes é uma necessidade, outras simplesmente uma vontade.

Há quem seja ferozmente fiel ao que sabe que resulta. Há quem seja profissional da mudança. Há quem o faça de forma radical - o fim de um relacionamento é um grande clássico.

Seja em que circunstância for, uma coisa é certa: nenhuma mulher vai cortar o cabelo de forma casual.

Não somos como tantos homens, que passam descontraidamente à hora do almoço no barbeiro. Não. Para nós, se envolve tesouras, é assunto sério.

O “só dois dedos” deve ser a expressão mais ouvida em cabeleireiros. Logo seguida de “só um dedo”, “só as pontinhas” e de “posso ver esta, ou ainda está a ler?” (revistas cor-de-rosa sabem melhor com cheiro a laca - é cientifico).

Queremos sempre cortar o mínimo indispensável. Não queremos estar ali mas cabelo espigado não é vida. Se houvesse uma cola que fechasse as putas das pontas, era ver-nos no site da UHU a encomendar às cinco caixas de cada vez.

Desenvolvemos uma anorexia capilar quando vemos o cabelo caído à volta da cadeira: são meia dúzia de fios mas nós vemos cabelo suficiente para recriar a trança da Rapunzel. Secretamente detestamos a nossa cabeleireira porque sabemos que encarnou o Eduardo Mãos de Tesoura e fez um massacre na nossa cabeça.

Ficamos chocadas quando mais ninguém assinala a chacina de que fomos alvo. Dos homens, estamos mais ou menos à espera. Perguntamos se não notam, mas mais para fazer género. Não temos grandes expectativas enquanto não der para colar mamilos ao couro cabeludo.

Mas, e as colegas de trabalho, e as amigas, e o amigo gay? Como é que não se unem na nossa dor, carpindo o cabelo assassinado? Como podem dizer que mal se nota, se ainda no duche dessa manhã sentimos que estávamos praticamente carecas? Somos vítimas, caramba, vítimas!

Também há momentos em que o fazemos cheias de ganas, a apontar para revistas, a invocar famosas, a gesticular no ar, num desespero para garantir que teremos o que imaginámos. Precisamos de uma mudança e vamos tê-la na base da tesourada.

Às vezes a culpa é das modas, como foi recentemente a da franja. Andava tudo de persiana corrida até aos olhos mas eu nunca tive coragem. Uma franja é demasiado compromisso para uma alma livre como a minha.

Há vinte anos eram as permanentes. Dizia-se que secava as raízes e dava volume. Eu acho que só serviu para assustar quem se vê em fotografias dessa altura.

Tenho uma amiga que se separou e que aparentemente deu a custódia do seu longo cabelo ondulado ao marido. Um dia chegou ao pé de mim com o mesmo corte que o Vítor Gaspar. “Precisava de uma mudança” dizia-me ela, entre um lábio a tremer e um par de olhos suplicantes por conforto. Não pude mentir. Nestas coisas do cabelo, sou muito mulher mas também sou muito homem. Gosto de ver uma mulher de cabelo comprido. Acho mais feminino.

Dirão que há mulheres muito sexys com quatro centímetros de cabelo. E eu concordarei. Mas tenho para mim que são felizes exceções. Pela parte que me toca, sei que pareço uma lésbica pouco convicta. E sei isto porque em tempos fui a um cabeleireiro que não conhecia e cometi o pecado capital de lhe dar carta branca. Nunca mais lá voltei. Conto-vos um dia. Quando as feridas da alma sararem.

Saibam portanto que na próxima semana vou cortar o cabelo.
Só dois dedos.
 


Se estiverem a planear o mesmo e a coisa vos correr muito mal, ou se forem simplesmente apaixonados por chapéus, como esta Mulher de Sonho que vos escreve, não deixem de visitar a chapelaria D'Aquino.

Chapéus há muitos, já sabemos. Mas se quiserem chapéus de qualidade, muita variedade e preços justos, encontram-nos nesta loja da Baixa de Lisboa.


Há para homens e para senhoras, de Inverno e de Verão. Fui lá no fim-de-semana para trocar um chapéu que me tinham oferecido. Saí de lá com três.

Sou uma besta consumista.
E, pelo sim, pelo não, fico já prevenida.


terça-feira, 25 de março de 2014

Não se brinca com a comida!

Já viram esta pequena maravilha?


Eu adorei este vídeo.

Adorei-o porque apesar de ter magia (que eu detesto), tem cães (que eu adoro). E muitos. E variados. E a detestar a magia comigo.

Fazendo desaparecer um biscoito de cão - que os pobres animais se preparavam para receber das mãos do ilusionista Jose Ahonen -, assistimos à cadeia de reações dos salivantes canídeos perante o misterioso desaparecimento.

Primeiro os bichos procuram no chão - porque de certeza que, se não está nas mãos, o biscoito caiu. Não caiu.

Sem sucesso, regressam à mão - porque só podem ter visto mal da primeira vez e é claro que o biscoito está na mão. O biscoito não está na mão.

Confusos, olham para o ilusionista e, de forma fofa e ternurenta, parecem perguntar “Mas que merda vem a ser esta?!”. Percebo-os bem.

Mais umas farejadelas, mais uns olhares e por fim, entre o desânimo e a revolta, há de tudo. Há os que viram costas, há os que tentam a abordagem do amor, há os revoltados que ladram.

Se eu fosse cão, seria o que não aparece no vídeo porque foi removido da perna do ilusionista com alicates industriais. “Ai não tens o biscoitinho? Ai achas graça andar a brincar com as minhas expectativas nutricionais? Então deixa lá ver se conseguimos apresentar os meus dentes caninos à tua tíbia”.

Não gosto de magia. Não gosto de não saber o truque. Não me venham dizer que se souber o truque não acho graça. Porque eu nunca acho graça e eu quero sempre saber o truque.

Mulheres às fatias, pessoas a levitar, pombas a viver com coelhos em cartolas. Nada disto é para mim, a menos que me contem como o fizeram. Exijo conhecer todos os jogos de espelhos, mangas marotas e caixas com fundo falso.

Toda a magia de que necessito está no amor incondicional que vejo nos cães. Para um cão, ir à rua, passear na praia, dormir no sofá, buscar e trazer uma bola trezentas vezes, são sempre as melhores atividades do mundo se ele as puder partilhar com o seu humano.

Amor sem reservas e sem julgamentos.
Isso sim é magia. E para esse, também não me importaria de saber o truque.



De acordo com informação no youtube, todos os cães receberam biscoitos antes e depois do truque. Então e os danos emocionais?

segunda-feira, 24 de março de 2014

Rituais de acasalamento inválidos

O que faz uma mulher jovem, no viço da idade, no pico dos seus instintos reprodutores, quando sentada numa sala de espera vê um homem atraente entrar?

Cruza a perna? Mexe no cabelo? Pega no telemóvel para parecer interessante e cheia de contactos? Hipóteses válidas, sim senhor. Mas nenhuma das que optei por seguir quando na sexta-feira me encontrei neste cenário.

Eram oito da noite. Estava sentada numa sala de espera.
Calças de ganga justas e botas de salto alto. Cabelo solto.
Ouvi a porta a abrir.
Entrou um homem atraente.
Num impulso, levantei-me.
Num segundo, tropecei num tapete.
No que me pareceram três horas, caí desamparada no chão, literalmente aos pés do homem atraente.

Pernas, braços e cabelo por todo o lado, carteira pelo chão a vomitar pacotes de lenços, chaves e corretor de olheiras. Tudo espalhado pelo chão de uma sala de espera numa sexta-feira à noite, aos pés de um assustado homem atraente.

O que faria uma mulher jovem caída de quatro - publicamente humilhada - lançada sem glória aos pés de um homem atraente?

Levantar-se-ia num fósforo, fazendo por apagar da memória o triste momento? Sorriria ao homem, lançando-lhe uma frase inteligente e sexy que abrisse caminho a um convite para jantar? De novo, hipóteses válidas.

Mas esta Mulher de Sonho nada disto fez.
Não. Esta Mulher de Sonho ficou de mãos e pés no tapete a rir de boca aberta. Tão aberta quanto a do homem que lhe oferecia ajuda, entre o embaraçado e o muito embaraçado. Vergonha alheia, está claro.

E portanto ali fiquei, desmanchada pelo chão, a rir como uma hiena bêbeda, numa sexta-feira à noite aos pés de um homem atraente.

E depois fui para casa.
Jantar sozinha.

Tapetes, odeio-vos.


sexta-feira, 21 de março de 2014

Do desemprego com uma insinuação de anal

Num momento em que o mercado de trabalho é mais dinâmico que nunca (leia-se: estás aqui, estás às 7 da manhã na fila do centro de emprego) é sempre bom ter presente o tamanho do cheque que levaríamos connosco caso a coisa um dia se desse.

Este é o tipo de informação que queremos ter antes de tomar decisões profissionais importantes como apresentar o agrafador à testa do chefe que insiste em falar connosco com os olhos pregados no nosso decote, ou fazer download do vídeo do Tomás Taveira para o computador do trabalho.

E como têm vocês acesso a esta informação? Nada temam pois esta Mulher de Sonho olha por seus leitores! É só clicar aqui, preencher os dados e calcular.
Até podem imprimir. Vejam lá é se depois não se esquecem da simulação na impressora lá do escritório.

Podem simular os dois cenários: o a) em que o chefe, incomodado pela fenda na testa, vos convida a sair da empresa (comichoso, pá!), ou o b) em que, depois de verem o vídeo das façanhas do Taveira, percebem que a vossa vocação sempre foi Arquitetura e pedem demissão para voltar à faculdade.

Seja o que for, tenham um bom fim-de-semana, sim?



Cair verticalmente no vício

Há pessoas que acham que o sexo só é bom sexo se o grau de exigência física estiver ao nível do pentatlo. Se a dada altura alguém estiver em perigo de deslocar uma omoplata, a coisa está a correr bem. Ou mias com cãibras ou não és parceiro à altura.

Há quem ache que há um número mínimo de posições a percorrer até se poder apitar para o fim da partida.

Há mesmo quem rotule um coito como coito aborrecido se os corpos se mantiverem paralelos durante a sua duração. E se a sua duração for curta.

Eu discordo.

Lá porque conhecem 143 posições em que um pénis é capaz de entrar numa vagina (e sair) (e voltar a entrar) (e por aí fora), não significa que, em todas as vezes que se entregam aos prazeres da carne, seja necessário passar revista a tooodas as posições. Às vezes, menos é mais, ou simplesmente, é o que é, não é o que tudo o que poderia, em teoria, ser.

Uma relação sexual pode ser plenamente satisfatória sem o vosso dedo grande do pé ser apresentado à testa do parceiro. Sentir é sentir, de cócoras ou em conchinha. E tenho de fonte segura que se podem atingir orgasmos sem passar pelas aulas do Chapitô. Juro.

Acho lindamente que se descubram novos prazeres, que se afinem posições, que se teste a resistência dos candeeiros de teto. Sou pela felicidade sexual e acho que ela (também) depende da variedade. Mas não de forma imposta ou forçada.
Porque se não desfizermos a cama, não foi bom. Porque se não te fizer suar 3 litros, não te chego. Porque “primeiro chupas tu, depois chupo eu, depois tu em cima, depois eu em cima, depois de quatro, agora de pé e no fim vamos para o telhado” é um guião. E os guiões não têm lugar no sexo. Só nos filmes de sexo. E mesmo nesses...

Convenhamos: há alturas em que não estamos para inventar. Ou porque estamos mais cansados ou porque há menos tempo ou porque há crianças, ou porque contra a mesa de jantar onde comeram os sogros na noite anterior já é suficientemente radical.

Há momentos em que estar apenas deitado em cima - ou em baixo - de quem se gosta, é muito melhor do que f*der à porn star.

Dez minutos de manhã, depois de tocar o despertador, podem ser bastante mais divertidos do que quatro horas de pele a cheirar a queimado. O Sting que me venha dizer que não gostaria de se vir nos 7 minutos que leva o esparguete do jantar a cozer. Pois sim.

Tirar dias completos para sexo? Totalmente a favor. Mas não me parece que haja tempos mínimos para o coito se poder qualificar como tal.

Desde que os envolvidos estejam envolvidos, tanto faz estar-se em posição missionária durante nove minutos, ou quarenta e cinco num mortal encarpado à retaguarda.

Portanto, guardem lá os kamasutras de bolso, os cronómetros e o red bull porque o que verdadeiramente importa, como dizia o poeta, “(…) é não ter medo: fechar os olhos frente ao precipício e cair verticalmente no vício”.

Não era sobre sexo. Mas podia ser.



Para os casais, recomendo este livrinho. Estão lá as posições todas.
Reconhecem alguma?







quinta-feira, 20 de março de 2014

Eu, desintoxicada, me confesso

Quando comecei a ouvir falar dos sumos verdes detox achei logo que seriam uma boa opção para mim. Sei que não consumo legumes e fruta na quantidade que deveria consumir e, se em vez de andar a comprimidos do Celeiro, fizesse um suminho - por mais assustador que parecesse - e ficasse toda vitaminada, negócio fechado!

Entrei nisto, como entro em tudo na minha vida: com força máxima. Motivadíssima. Cheia de garra.
Na verdade, à bruta.
E à bruta, porquê? Porque achei que giro, giro, seria, antes de passar à fase do sumo ao pequeno-almoço, fazer um detox-versão-Rambo em que durante três dias a minha dieta fosse apenas isto. Cinco refeições em forma líquida para abrir a pestana.

Fiz a minha pesquisa (a ideia não é originalmente minha - há por aí mais Rambos do detox), recolhi receitas e organizei a lista de ingredientes (que incluía, entre outros, 27 cenouras e 16 talos de aipo) (nunca na vida tinha comprado aipo) (acho que não serei a única).
Marchei Pingo Doce dentro cheia de convicção, uma lista de compras comprida, e com a minha mãe pelo braço, a buzinar-me ao ouvido “Mas para que queres tu tantos pepinos, filha?”.

Nada temi.

Três dias passariam a correr e era desta que eu ia ficar limpinha por dentro. Já me estava a ver com um sistema digestivo de uma criança de 2 anos. Tudo praticamente por estrear. Ainda a brilhar.
Mais do qualquer outra coisa, queria que os meus intestinos parassem de ser os calões que têm sido nos últimos anos e ansiava por ver a maravilhosa palete de verdes que seria capaz de produzir na casa-de-banho (eu sei, às vezes o meu amor ao cocó parece de homem, mas esta função é das mais importantes do organismo) (e além do mais, é divertida).

Nos dias em que fiz este detox, com sumos ao pequeno-almoço, meio da manhã, almoço, meio da tarde e jantar, variei bastante os ingredientes. Como disse, seguia receitas e ia usando o que estava sugerido. Foi importante, sobretudo para ver o que gosto e o que detesto.

Como no terceiro dia tive um almoço de trabalho, resolvi esticar a façanha. No quarto dia ainda andei a sumos. Só parei ao jantar.

Mulher de Sonho, Rambo-Norris do detox. É o que eu sou.

E resultados? E sofrimento? Perguntam vocês, interessadíssimos.

Não foi difícil. Mas isto depende, claro, da motivação com que se entregam. Eu ia mentalizada para três dias. Três dias, quando estamos de férias, passam a voar. Um feriado colado a um fim-de-semana, mal se dá por ele. Pensando assim, não custa por aí além.

Alguns sumos custaram. E muito. No primeiro dia bebi três, em vez dos cinco. Não só porque ainda não tinha a técnica afinada e, em vez de sumo, estava a fazer pasta verde que dava para comer à colher, mas também porque havia sabores que não agradavam à menina (habitualmente mimada com o pão mais fresco e a pastelaria mais açucarada da Padaria Portuguesa).

Senti-me bem e sempre com energia. No último dia doía-me um bocadinho a cabeça. Pode não ter sido do detox mas também pode ter sido. Por isso aqui fica, também, no testemunho.

Perdi 2 quilos (1,9 se quiserem ser precisos). Isto deve variar bastante de pessoa para pessoa, mas para quem tem este tipo de objetivo, também há resultados.

E, claro, a partir do segundo dia produzi gloriosas coisas verdes TODAS as noites. A cereja no topo do bolo (por assim dizer).

Agora faço, pelo menos, um sumo destes todos os dias. Só uso os ingredientes que gosto, seguindo algumas regras simples:

Legumes de folha verde-escura: até 2 variedades (eu ponho espinafres ou couve)
Legumes: até 2 variedades (eu ponho pepino ou alface)
Fruta: até 2 variedades (o kiwi é ótimo para os intestinos e o abacaxi para a retenção de líquidos)
Raízes: até 1 variedade (eu ponho sempre gengibre)
Ervas: até 1 variedade (eu não ponho)
Sementes: até 1 variedade (eu ponho linhaça ou sementes de chia)
Algas: até 1 variedade (eu ponho spirulina, que tem muita proteína)

Se quiserem arriscar, basta terem uma centrifugadora ou uma liquidificadora (para batidos ou para sumos mais espessos ou a precisar de um passador). Os ingredientes, com exceção da spirulina (que compro no Brio mas que também deverão encontrar no Celeiro) estão em qualquer Pingo Doce, Continente ou Jumbo.
Devem lavar bem os legumes e as frutas, manter a casca em quase todos (sejam razoáveis: se gostarem de coco, não usem a casca), juntar água (para ser sumo em vez de massa para unir tijolos) (eu uso água gelada para o sumo ficar mais agradável mas também podem juntar gelo) e não adicionar açúcar (que já está na fruta). Depois é juntar tudo na máquina e arreliar os vizinhos durante dois minutos.

Com o tempo afinam a receita ao vosso gosto e riem que nem uns perdidos quando forem à casa-de-banho.
Quem é que não quer ter pequenos Hulks a sair pelo rabo? Todos querem!

Olá, o meu nome é Mulher Mesmo de Sonho e eu bebo sumos verdes (mas não os instagramo).






Também há versões alternativas. Cada um sabe de si.



quarta-feira, 19 de março de 2014

Dia do Pai. Era hoje.

Já não tenho o meu.

Os senhores que passaram a última quinzena a bombardear-me o telemóvel e o email com promoções de camisas e de livros podem ir sentar-se na ponta de um foguetão.

Mimem, muito, sempre, o vosso.



terça-feira, 18 de março de 2014

Sou tão mulher #3

Ontem arrumei a minha caixa dos sacos. A caixa onde guardo os sacos "bonitos".

Todas as mulheres têm uma caixa de sacos bonitos. Pode ser uma caixa mas também pode ser uma prateleira, um armário ou um saco maior onde as mulheres guardam - com a vida - estes troféus. Ali é onde moram os sacos que queremos guardar para sempre.

Estes sacos não são os da Zara, que usamos para levar um casaco a limpar. Não são os da Primark, que acomodam uma sobremesa que fizemos para uma festa de aniversário. Não. Estes são os outros.

Os sacos bonitos podem ter sido sacos de uma compra importante, de uma loucura, de uma oferta. Podem ser de um sítio onde fomos felizes. Ou de outro, onde fomos muito felizes. Às vezes nem sabemos porquê. Talvez porque o sacana do saco é mesmo bonito.

Estes sacos pertencem à categoria pela qual algumas mulheres considerariam assassinar o seu homem, caso ele ousasse meter a corrente de bicicleta num deles para a levar a arranjar.
Estes são os sacos que nos fariam enfiar a travessa do empadão, para levar para casa dos pais, no saco que trouxemos de uma sex-shop em Amsterdão. Antes a vergonha que um pedaço de alma.
Estes são os sacos pelos quais uma mulher, em caso de amputação de três falanges na cozinha - mesmo prestes a perder os sentidos - lutaria corpo a corpo com quem ensaiasse usar um deles para levar os decepados membros, em gelo, ao hospital.

Os sacos bonitos são os que usamos com orgulho quando sabemos que a viagem é de ida e de volta. Quando não há perigo de serem arrancados da nossa vida.

Lembro-me de Natais em que, depois de abertos os presentes, e de intensos olhares gulosos, alguém lançava para o ar "Não queres o saco, pois não? Posso ficar com ele?". E era ver a minha Tia Alcina, olhos raiados de sangue (por entre a catarata), largada em voo picado por cima do sofá, a repetir, em tom agudo "Claro que preciso. Faz-me muita falta. Fica antes com este (e a apontar com o dedo retorcido para um saco ranhoso, feito de plástico colorido). Esse eu quero guardar".

Ontem, ao passar os olhos pelos meus (queridos) sacos bonitos viajei por anos de consumo feliz. Por carteiras e por sapatos. Por roupa que ainda tenho pendurada com etiqueta. Por grandes loucuras. Por presentes inesquecíveis.

No meio do meu festim estético vi sacos bonitos desconhecidos. Tentei recordar compras que não me lembro de fazer e localizar lojas onde não me recordo de ter estado. Dei mil voltas à cabeça mas algumas respostas não chegaram.

Uma coisa eu sei: se eu tenho os sacos, e se não me lembro de terem sido ofertas, eu estive lá.
Uma mulher não se separa de um saco bonito sem dor.

Ou serei só eu?



segunda-feira, 17 de março de 2014

Porque às vezes é só mesmo para nos apalparem

À hora do almoço fui comprar bolas de berlim. É uma ocasião especial e queria fazer uma surpresa a quem trabalha comigo.

Entrei no café e pedi quatro bolas de berlim com creme.
Quando percebi que me tinha esquecido do porta-moedas, expliquei o que se passava, pedi desculpa e cancelei o pedido.

Estava um tipo ao meu lado que se ofereceu para pagar.
Tentei declinar mas ele foi mais rápido. Ora estava a oferecer-se para ajudar, ora estava a passar-me a embalagem com o cartãozinho profissional dele metido no saco.

Fiquei sem saber o que dizer. Agradeci o melhor que consegui e peguei na caixa. Sem saber se deveria reconhecer a existência ou não do cartão, decidi-me pelo silêncio.

Saí do café, entrei no carro, conduzi uns metros até estar longe do local, e então alcancei o saco das bolas de berlim e olhei para o cartão.

É nutricionista.

Gestos de generosidade? Desconfiem.



sexta-feira, 14 de março de 2014

Fio dental pode ser

De seis em seis meses faço uma limpeza dentária. Em Março e em Setembro, não falha.
Mesmo com escovagens regulares, a nossa boca nunca fica completamente limpa. E para quem, como eu, fica eriçada só de pensar em passar fio dentário, estes tratamentos são essenciais.

Gosto muito dos meus dentes. São bonitos e são fortes. Nunca tive uma cárie, nem sei o que é doer um dente.

Há uns anos, por sugestão do meu dentista, retirei os sisos.
Os sisos são os cabrões da boca. Porque não servem para nada e só chateiam.
Pela sua localização, a mastigação não se ressente se forem retirados, e pela sua localização também, a sua escovagem é mais difícil e pode dar origem a problemas.
E depois, claro, parecem aquelas pessoas que entram nos concertos dez minutos antes de começar e vão acotovelando toda a gente para ficarem bem localizadas. O único dente que tenho desalinhado é em baixo e foi por causa destes cabrõezinhos que chegaram mais tarde e resolveram pôr-se confortáveis. Meteram-se com a pessoa errada. Arranquei dois de cada vez e resolveu-se o problema. Pumba.

Mais ou menos por essa altura também fiz um branqueamento. Havia a opção de a fazer no dentista ou em casa. Escolhi a caseira.
Embora fosse apelativo resolver o assunto em menos de nada - versus andar quinze dias a dormir com moldes com gel branqueador - preferi não cegar toda a gente com a luz intensa que os meus dentes brancos emitiriam, ao regressar do dentista. Na altura ainda estava muito fresca a lembrança do branqueamento radical que o Paulo Portas tinha feito. Num dia era uma pessoa normal, no outro podia ver-se-lhe a dentadura da Estação Espacial Internacional.
E por isso mesmo, optei por algo mais progressivo no recato do lar. Fiz primeiro os de baixo - por conselho do dentista, para ver a diferença - e depois os de cima. Não custou nada e valeu bem a pena o investimento. Na altura não foi nada barato mas acho que agora os preços estão mais amigos.

Agora diariamente, para além da escovagem, bochecho com uma solução para as gengivas. As minhas têm tendência a sangrar, por isso à noite uso Gengilacer e ficam impecáveis.

Há anos que vou ao mesmo dentista e que faço as limpezas com o mesmo higienista. Gosto disso. Ele já sabe que vou espernear quando me passar o fio dentário e sabe também que se me dá flúor para bochechar, em poucos minutos revisitaremos as minhas refeições anteriores.

É importante ir a uma clínica ou consultório com bons especialistas e em quem confiemos. Há muita gente com fobia do dentista, mas se apostarmos na prevenção e na manutenção, não é caso para isso.
Os dentes têm que nos durar a vida toda (embora agora já não seja bem assim - mas depois olhamos para o Carlos Dias da Silva e temos medo do que possam ser as outras soluções) por isso mimo muito os meus.
Só há uma coisa que não faço por eles: usar o fio dentário. Meus amigos, aquilo pode ser a cura milagrosa para tudo o que é doença bucal mas só de pensar que me vai tocar entre os dentes e nas gengivas encaracolam-se-me as unhas. Fio dentário, não obrigada. Prefiro um prego na testa.

Não sigam o meu exemplo. Eu sou vítima disto. Escovar, passar o fio e ir ao dentista são tudo elementos essenciais.
 

E, por mais assustados que estiverem, por favor, POR FAVOR, não se esqueçam de onde estão.



quinta-feira, 13 de março de 2014

De quatro também é bom

Sabem o vídeo fofinho/nojento dos casais de estranhos a beijarem-se? E que agora parece que já não é fofinho ou só nojento porque a malta recebeu cachet e fazia tudo parte de uma campanha para uma marca de roupa?

Ponham os olhos neste vídeo e digam lá se não dá 15 a 0 ao outro. 35 a 0!
Até há ali um que tenta levar a coisa para o nível seguinte. Mas desculpamos, certo?

Quem não adorar isto, é uma batata podre.



Otimistas. Era matá-los.

Não me interpretem mal. Não é raiva, é apenas inveja: o otimista é um indivíduo mais feliz do que o não otimista. Vê o melhor em cada situação.

Se há um cabelo na sopa, de certeza que é dele. Se foi despedido, sente-se com sorte por finalmente ter tempo para aprender canto gregoriano. Se engordou 4 quilos, não passará frio no Inverno.

O otimista é como o pouco inteligente, mais em mais irritante. O pouco inteligente não se enerva com muita coisa, já que a maior parte do que o rodeia, lhe passa ao lado. O otimista vê tudo a desabar e ainda assim acha que há um lado positivo.

O edifício está a ruir? O salvamento vai dar uma história linda. O cachorro foi atropelado por dois comboios? Pelo menos daqui a sete anos não teremos que passar pelo desgosto de o eutanasiar. O marido fugiu com a melhor amiga? Se correr bem, pode ser que conheça alguém no casamento deles.

O otimista está a par com a mulher de corpo atlético que grita a plenos pulmões que aquilo é genético, que nunca foi a um ginásio e que come um balde de gelado todas as noites.
O otimista está ao nível do indivíduo que encosta a masculinidade às miúdas no metro, mesmo quando só há cinco pessoas na carruagem.
Um otimista merece o mesmo tratamento que o tipo seboso que nos manda um piropo ordinário ao volante de uma camioneta e que, se ficar parado no semáforo, fecha o vidro e vira a cara quando passamos.
Era barrá-los de mel e chamar três ursos.

Tenho um evento formal na próxima semana, um vestido comprido com alças para usar e não consigo encontrar um soutien que seja capaz de me dar o apoio necessário sem ser a estrela principal do meu decote. Já fui a TODAS as lojas num raio de 30 quilómetros (incluindo uma de artigos para pesca) e nada. Já pedi ajuda às amigas e nada. Até à mãe já pedi socorro e NADA. E foi de sorriso quente e tranquilo, que a última menina de loja de artigos intímos que abordei, me disse “Não se preocupe. Vai ver que consegue encontrar. Há sempre solução”.

Estive a isto de a assassinar.




quarta-feira, 12 de março de 2014

Ganhei. E agora?

Sempre que faço um Euromilhões planeio detalhadamente o que faria ao dinheiro. Ainda mal o talão saiu da máquina e eu já tenho quase tudo gasto.

Como só jogo quando há um prémio gordo, é um exercício já mais ou menos oleado. Sei o que faria no imediato, as loucuras, as ofertas e o futuro. Mas isso não me impede de continuar a rever e a fazer ajustes, se necessários.

No fundo, é como que uma mão quente que me embala ao som de dinheiro a ser depositado na minha conta. Dinheiro daquele que nunca conseguiríamos contar à mão, que nem imaginamos o que será ter, que parece que resolveria todos os nossos problemas.

Faço esta gestão de forma organizada mas sempre cheia de fé. Acredito que é desta. É agora que me sai a mim. Como é que poderia ser de outra forma se já tenho tudo pensado? Impossível continuar a viver sem aquele prémio.

Discuto os planos com a minha mãe. Sonhamos juntas. E chega a acontecer que ela se incomode por discordar da forma como vou gerir a fortuna. E entregamo-nos a isso porque quanto mais argumentamos, mais a mudança de vida parece real. “Mas não era preferível viveres no sítio tal? Porquê ir para tão longe?” ou “Ó filha, e depois só te via de seis em seis meses?” ou ainda “Mas não deixavas de trabalhar, pois não?”. Não, mãe. Claro que não. Cem milhões de euros e eu continuava a ter reuniões de quarenta e cinco minutos com pessoas a cheirar a cinzeiro, para chegar ao fim do mês e receber o equivalente à conta do veterinário do rebanho de lamas que viveria no meu jardim.

Enfim.

Saíram-me 4,31€. E agora, como é que eu estico isto?



terça-feira, 11 de março de 2014

A série que me fez tirar o chapéu a um texano tocador de bongos

Não sei quando vai chegar a Portugal, nem com que nome virá, mas sei que quando chegar é uma série que não vão querer perder. O nome original é True Detective e o último episódio da primeira série passou nos Estados Unidos, na HBO, no Domingo. É a melhor série do tipo detetives-machões-à-procura-de-um serial-killer que vi nos últimos tempos. Mas sobretudo, é muito mais que isso.

A história é boa, os desempenhos são fantásticos, a estética (perdoem-me os entendidos na matéria, mas é a palavra que ocorre a esta leiga) é excelente, a realização, a fotografia, os diálogos, a música - enfim, tudo. Até os vilões.

Tranquilizem, não vos vou estragar o final.

Foi de tal forma surpreendente, que passei a respeitar o Matthew McConaughey - ator. Sempre o achei um tipo de águas calmas, bom para comédias românticas, filmes de ação e pouco mais. Nas (poucas) entrevistas que vi ou que li, adivinhava sempre um homem vaidoso com um crânio mais para o vazio. Para mim, McConaughey traduzia-se em jogging sem t-shirt (o que fazia com frequência e cujas imagens não demoravam a invadir as revistas cor-de-rosa) e um episódio em que a polícia foi chamada a casa dele porque o tipo andava a tocar bongos no jardim. Nu.

Depois destes oito episódios, não acho o mesmo. E eu já tinha visto o Dallas Buyer's Club (para quem não viu, o trailer está aqui e foi o filme que lhe valeu o Oscar de Melhor Ator este ano). Achei que, sim, que era uma interpretação de peso, mas sacudi para uma coisa esporádica. Uma inspiração de uma só vez.

Mudei de ideias. No True Detective, ele fez-me acreditar que era o Rustin "Rust" Cohle.


Um detetive texano com uma história familiar trágica e um problema de álcool. Um tipo inteligente e cheio de camadas que vemos evoluir, em várias direções, nesta história que se passa ao longo de dezassete anos. Só gostaria que o inglês dele não fosse tão serrado. Para quem vê/vai ver sem legendas, mesmo habituado a estas lides, como eu, poderá encontrar diálogos em que será preciso voltar atrás. Com o volume mais alto. Vale a pena. Os diálogos são excelentes.

E são-no sobretudo entre o Rust e o Marty.

O Marty, ou Martin Hart, é o outro detetive e é interpretado pelo Woody Harrelson. Sou fã desde o Cheers - obviamente que num registo muito diferente - mas o Woody não desilude e, de novo, estamos todos no enredo a achar que sim, que aquele tipo mulherengo e bonacheirão existe mesmo, conseguirá ultrapassar os seus defeitos e apanhar o seu homem. 


Duas personagens muito diferentes. Que se complementam, que retiram o pior e o melhor uma da outra, que levam a história de forma sublime e nos fazem desejar que o próximo episódio chegue logo logo a seguir. Para terem uma ideia, o Diário de Notícias dizia ontem que “o número de pessoas que quis assistir ao último episódio de True Detective (…) foi de tal forma elevado que a HBO GO, a plataforma online de streaming da estação norte-americana, foi abaixo”.

Mas atenção: esta é uma série pesada. O crime à volta do qual a história gira é muito violento. Há vilões muito vilões. Portanto não agradará a todos. Mas por outro, o Breaking Bad também não tinha pardais a chilrear no bosque, e eu bebi as cinco temporadas como se fossem água e eu estivesse perdida no deserto há quatro dias.

Há muito mais que poderia dizer. Mas deixo para se deslumbrarem quando cá chegar. Por agora fiquem com um dos trailers e com a música do genérico.




Curiosos? Vão adorar!




segunda-feira, 10 de março de 2014

Domingo – Parte II

Para a maior parte de nós, segunda-feira marca o início da semana. É o princípio dos cinco dias úteis. É neste dia que regressamos ao trabalho depois de férias. Quando não estamos felizes profissionalmente, é o dia mais temido. Quando temos um flirt no emprego, é o dia que mais desejamos.

Mas nem sempre é assim.

Hoje, eu e a minha gripe achámos por bem prolongar o nosso fim-de-semana. É uma relação recente e achámos que fazia sentido ficar a aninhar na cama. Ela agarrada a mim, de olhar embevecido. Eu a tentar livrar-me dela para lenços de papel. Claramente não é uma relação equilibrada. Há febre, mas não é de amor, há transpiração, mas não há maluqueira, há produção de secreções, mas são no nariz e na garganta.

Claro que, sendo a Mulher de Sonho que sou, não estou de cabelo desalinhado, metida na cama até às orelhas, com um ninho de lenços na mesa-de-cabeceira, nariz pingoso e tosse de cão. Não. Imaginem-me num roupão macio, cabelo comprido loiro atado num rabo-de-cavalo descontraído, meias grossas metidas numas pantufas confortáveis e uma caneca fumegante de chá na mão.

Imaginaram?

Não é verdade. Estou miserável. Podre. Tenho esta criatura verde e gosmosa do Caça-Fantasmas metida na garganta.



De cada vez que tusso, sinto que estou mais perto de conhecer um dos meus pulmões. O meu gato, que normalmente adoraria ter-me em casa, para dormir as suas habituais 20 horas de sono junto a mim, já fugiu para debaixo do sofá. Eu acho que ele acha que o fim está perto e já está a planear por que parte me irá começar a comer quando passarem demasiados dias sem ninguém para lhe dar ração.

Portanto, para mim hoje é Domingo, A Sequela.
Roam-se de inveja!


Mas para que este dia não seja só marcado por coisas aborrecidas, lembro-vos que termina hoje o prazo para comunicar as faturas de cabeleireiros, restaurantes, hotéis e oficinas, para efeitos de dedução do IVA no IRS de 2013. Divertido, certo? Nada como tratar de deduções fiscais para animar todo um dia.

Para o fazerem, devem ir ao portal das finanças - acesso direto aqui -, introduzir os vossos dados de acesso, selecionar verificar faturas e, se tiverem faturas pendentes, clicar no símbolo correspondente (carros, motos, restaurantes ou cabeleireiros). Coloquem, na data inicial, 1 de janeiro de 2013. Por defeito deverá estar 1 de janeiro de 2014 e isso altera a pesquisa.

Se não o fizerem, não terão devolução dos 15% a que têm direito. E isso não pode ser! 15% pode ser muito dinheiro. Mas mesmo que seja pouco, é vosso por direito. Vá, tratem lá disso.

Quem é amiga, quem é?

E agora, com a vossa licença, vou só aqui encharcar dois ou três lençóis e tratar de desfazer o nariz para vinte lenços de papel.


sexta-feira, 7 de março de 2014

Sou tão mulher #2

Entro no supermercado sempre atenta às promoções. Desconfio e comparo preços. Ao cêntimo. Não comparo o preço final: comparo o preço por quilo ou por litro. A mim não me enganam com mais x% de produto ou uma embalagem de oferta, colada com fita adesiva. Pagamos tudo isso bem caro. E se for uma exceção, e for de facto oferta, fruto de um qualquer delírio de marketing, eu quero ter essa alegria comprovada na alma.

Compro marcas brancas. Não em todos os produtos (sobretudo não nos de higiene e limpeza, em que gosto e confio em marcas que já conheço) mas noutros, de alimentação. Confesso-me indiferente a que a lata do meu atum diga Bom Petisco ou Pingo Doce. O esparguete do Continente coze da mesma maneira e os legumes do Jumbo dão para fazer a mesma salada.  
Em alguns produtos, eu até gosto mais da marca branca. Se me sabe melhor e pago menos, não há como não os escolher. 

Quando mudei de casa, no final do ano, procurei as soluções mais adequadas para os meus consumos domésticos. E, claro, os fornecedores a quem não teria que entregar a alma para poder acender um candeeiro ou tomar um duche quente. 

Quando não tinha cartão de combustível da empresa, procurava as bombas de gasolina com os preços mais baixos. Menos um cêntimo em cada litro levava-me a ir à bomba mais ao lado. É bom sentir que se poupou o que se podia ter poupado. 

Quando viajo, procuro sempre opções low cost. Acatito quilos de roupa numa mala de viagem minúscula para poupar taxas. Nunca compro o seguro. E trago das lojas duty free dos aeroportos os perfumes e os cremes mais baratos para conseguir cortar uns euros no balanço final. 

Gosto portanto de pensar que sou uma consumidora atenta, que esmiúça os seus gastos à procura das escolhas mais racionais. 

E é munida desta convicção que, num piscar de olhos e com meio minuto de hesitação, gasto 150€ num par de sapatos. 

Porque estes sapatos são lindos.
Porque os outros quatro pares que tenho da mesma cor não são bem da mesma cor. O tom é completamente diferente.
E o salto não é bem igual. É melhor.
Estes são os sapatos mais bonitos do universo.
Nunca uns sapatos ficaram tão bem num pé de uma mulher.
TODA A MINHA VIDA quis ter uns sapatos assim e nunca os tinha encontrado.
E a última vez que virei costas e não comprei qualquer coisa, andei semanas esfrangalhada com remorsos. 

Portanto, compro os sapatos, vou de coração cheio para casa, como a minha salada de atum  (marca branca), e espero, feliz, pela meia-noite para pôr a máquina da roupa a lavar. 

Sou tão mulher.