terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

Dos cinzentos

Hoje é dia de cinzentos.

De espaços e de silêncios. De ausências do ser.

Há dias assim. E não pedem desculpa por isso.

Acordamos com eles. Neles.
Abraçam-nos durante horas. Sussurram-nos maldades ao ouvido. Verdades, talvez. Mas das que aleijam.

Passamos por eles o melhor que conseguimos.
A correr, lágrimas ao vento. Ou a arrastar pés, desgastados e sem força (não há mais força).

Lembramos momentos em que virámos definitivamente a vida. Era uma coisa, agora é outra coisa. Num segundo. Em meio segundo. Num pestanejar rápido. Muda tudo. Mudou  tudo. Até o que ainda não foi.

Lembramos momentos em que nos morreram pessoas. Morreram-nos mesmo, ou só do alcance de um braço. E depois afinal, é o mesmo.

Lembramo-nos de rir de boca aberta. De achar que nada poderia ser mais perfeito. De sentir o universo na pele e na alma e de amar com a força de um camião. Com tudo. Como se fosse a primeira vez e nenhum muro existisse. Sem feridas, sem fantasmas, sem 30 anos de cicatrizes.

Queremos mais. Queremos regressar a nós. A quem já não conseguimos ser porque nos perdemos por caminhos cinzentos e crescer é isto mas eu não queria.

Há dias assim. Há dias fodidos assim.



2 comentários:

  1. "(...) há dias assim. e não pedem desculpa por isso.
    (...) há dias assim. (...) fodidos (...)."
    bonitas palavras.

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