terça-feira, 26 de novembro de 2013

Poltergeists, sacos de pasteleiro e papel higiénico

Fazer uma mudança é - há que dizê-lo com frontalidade - uma grande merda.

Implica embalar e desmontar o que temos no local A, para transportar para o local B, onde nos aguarda a tarefa de desembalar e montar tudo de novo. Dá trabalho e perturba-nos a vida. O processo é normalmente demorado e cansativo, faz-nos perder a paciência em menos de nada e deixa-nos com meia dúzia de coisas partidas.
Como disse, uma merda.

Ando nesta vida. Ainda na fase de preparação mas já com a paciência por um fio. Daqueles muito finiiiinhos.
Infelizmente, em vez de me aparecer a Fada das Mudanças durante a noite (sim, é real, calem-se) ou de encontrar um baú bem fundo, cheio de euros que pagassem uma mudança profissional (daquelas que, na casa nova, até as molduras e os detergentes nos deixam alinhados), está esta Mulher de Sonho a preparar tudo sozinha.

No meio de lamentos recheados de obscenidades e de colossais nódoas negras que vou colecionando devido ao embate em caixotes e móveis fora do lugar, elaborei uma lista mental de coisas que não ajudam no momento de fazer uma mudança.
Partilho-a convosco. Sintam a minha dor.

Gostar de dormir
Há mil coisas para tratar. Nunca há tempo suficiente durante o dia. Dormir, agora só lá para janeiro. Se gostam de dormir, fiquem na vossa casa. Para sempre.

Querer ter as mãos arranjadas
Tenho as mãos de um estivador com 15 anos de carreira. Podia facilmente fazer esfoliação sem precisar de creme esfoliante.

Ter um gato
Eu adoro o meu gato. É fofinho e lânguido e dorme várias horas ao Sol, contorcendo-se de prazer e de contemplação felina. Mas ter um gato enquanto se faz uma mudança, é ter um poltergeist connosco. A sério. Não há caixote aberto no qual ele não entre. Não há saco que ele não explore. Não há loiça deixada casualmente numa bancada cuja resistência ele não queira testar, atirando-a ao chão. O meu gato já trepou pelas pernas do tipo do MEO, já se assanhou ao senhorio, já evacuou durante uma visita de potenciais arrendatários. A casa de banho dele é na cozinha. Eles estavam na cozinha. Eles nunca mais deram notícias.

Ter alergias
Preciso de uma máscara de cirurgia feita de papel de fralda para absorver toda a água que me escorre do nariz quando mexo em roupa e em coisas guardadas há mais de 3 horas. Sou uma carpideira profissional combinada com um caracol: choro e largo ranho em todo o sítio por onde passo.

Fazer refeições em casa
Esqueçam. Tudo o que é utensílio que precisam já estará embalado. Por outro lado, por uma razão que desconheço, o saco de pasteleiro e a tesoura do peixe serão sempre as últimas coisas a guardar. O ideal é comer fora ou encomendar qualquer coisa. Mas nem isso é pacífico: ontem ao jantar limpei a boca a quatro folhas de papel higiénico. E apesar de ser patético, oiçam o que vos diz esta pessoa com vasta experiência em mudanças: embalem os guardanapos, embalem o papel de cozinha, embalem tudo, mas nunca, NUNCA, caiam no erro de embalar o papel higiénico antes do exato dia da mudança. Nunca.

Ter orçamento limitado
Há sempre um cabo, uma lâmpada, um móvel de apoio, um pequeno ou grande eletrodoméstico, uma abertura de contador, um encerramento de contrato, um parquímetro, um técnico, dois técnicos, um jantar que se oferece a um amigo que nos ajudou a transportar um saco de hipopótamos para um sexto andar sem elevador, que chegam para surpreender as nossas escanzeladas finanças. Se estiverem a preparar uma mudança contem sempre com um acréscimo ao valor inicial para estes imprevistos. Nunca falham.

De maneiras que é isto. E o tempo a passar.
Portanto, se me dão licença, vou só ali sentar-me no chão e desesperar um bocadinho.



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