segunda-feira, 19 de maio de 2014

Senhoria à força recusa via do crime

"Viver na cidade é fantástico", disseram eles.
"Nunca mais terás o tormento das filas e das portagens", acrescentaram eles.
"Campo de Ourique é um bairro tão agradável!", exclamaram eles.
“O comércio, os jardins, o rio mesmo ali ao lado”, venderam eles.
"Uma casa antiga, cheia de charme, num sitio vibrante" concluíram eles.

O que eles nunca disseram, nem sequer insinuaram, foi a existência de um bairro paralelo, de um condomínio miniatura, de uma família com 50 milhões de indivíduos. Todos sem qualquer noção de etiqueta ou da mais básica educação. Todos a aparecer à hora da refeição.
50 milhões de formigas residentes entre as tábuas do meu prédio com o desejo ardente de partilhar refeições comigo. Voluntária ou involuntariamente.

Detesto matar animais.
Já passei muito tempo a convencer aranhas a subir para metades de folhas de revista que depois serviram de plataforma para uma saída de varanda.
Já fiz figuras de urso a encaminhar moscas para janelas. E o meu gato a implorar que lhas servisse como lanche. E eu, cruel, a esbracejar e a apontar e a fazer de espantalho/cão pastor/doente mental.
Até melgas já me torraram horas de sono por não lhes querer fazer liftings com Dum Dums e seus aparentados.

Ainda não aconteceu deparar-me com baratas (as filhas de Satanás) mas aí também não haveria dúvidas. Eu sairia (histérica e aos gritos, direção A2 Sul) e elas podiam ficar com a casa. Para sempre.

Mas agora, confrontada com esta vaga de penetras de antenas, que à mínima migalha mobilizam primos em vigésimo quarto grau, que raio fazer? Até o pólen que uma jarra de flores deixou numa mesa de apoio, já lhes serviu de banquete. Pequenas boquinhas com cantos coloridos, olhos esbugalhados e coraçõezinhos a palpitar de alegria. “Aaahh, pólen, que delícia”.

E o meu gato a olhar, feito parvo, sem saber o que fazer perante uma fila de cabelo escuro que se movimenta das tábuas do chão até [...] (preencher com qualquer coisa que esta malta possa levar para casa).
“Mas que merda de moscas são estas? Voem, putas, que assim não tem graça”.
E como elas não voam (embora já tenha visto uma a andar no teto) ele lá fica de olhos presos, na esperança vã que uma ganhe asas e lhe dê uns minutos de luta.

Mas que raio faço eu, pergunto, quando pousar uma taça com despojos de pipocas se torna impensável e parece que vivo numa casa de obesos em recuperação, onde a comida tem que estar a cadeado?

Alguém sabe como convenço esta malta a mudar-se para a Padaria Portuguesa? Se lhes deixar um mapa pequenino ao pé de uma bolacha, elas vão?

Quem pode ajudar esta senhoria à força, que não quer recorrer ao crime, mas que deseja não ter a sua casa partilhada com ladrões de 4 milímetros?

Help?



22 comentários:

  1. Õs meus pais têm problemas de vez em quando na casa deles... O remédio é mesmo matar a bicheza toda!

    (Ri-me tanto com a parte das baratas...)

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    1. Pois mas isso não queria. 'tadinhas.

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    2. Tadinha de ti que as aturas e fazes textos brilhantes sobre isso

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  2. O problema pode estar na rua. Aqui em Lisboa são muito comuns umas árvores de flor roxa, que cai no passeio (e nos vidros dos carros) e deixa uma cola! Deve ser muito doce, porque onde cai atrai formiguedo. Se for o caso, não tens grande alternativa senão chamar a desinfestação. Coitadinhas, percebo-te tão bem. Eu já fiz isso tudo que dizes, e até atirei baratas pela janela num sítio onde trabalhei, só para que não morressem às minhas mãos...

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    1. Bem sei. Mas na minha rua não as tenho. Só formigas. E pombos cheios de amor para dar.

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  3. É metê-las numa sandes, com um bocadinho de açúcar. Têm muita proteína.

    (também há umas armadilhas à venda, diz que funcionam)

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    1. Gosto da minha proteína sem antenas. Coisas cá minhas.

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  4. Faz um carreirinho de acucar até ao ralo da banheiro e quando estiverem lá todas no banquete....ZÁS :P

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    1. Eh pá mas o problema é que eu sou uma pacifista. Não dá para termos uma conversa?

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  5. Se puseres um montinho de sal no buraquinho por onde elas entram, pode funcionar (já fiz isso), e não entram mais.

    As que já estão por aí, tens de as varrer e deita-las porta/janela/varanda fora...

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    1. O problema é que a casa é antiga e elas não têm uma porta: têm várias! Grandes porcas.

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  6. ...ou sendo um bocadinho mais 'sanguinária' tens sempre esta alternativa:


    Receita para matar uma formiga:

    Coloca em cima da mesa, por esta ordem, um pouco de sal, uma garrafa de gin, um palito e uma pedra.
    A formiga vai vê o sal, pensa que é açucar e vai comer. Depois fica com sede. Vê a garrafa de gin, pensa que é água e bebe.
    Fica bêbada, tropeça no palito, bate com a cabeça na pedra e morre de traumatismo craneano.

    Et voilá! Problema resolvido

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    1. Genial! Mas não podemos trocar o gin por cerveja (para ficar mais em conta) e deixar uns tremoços à porta da vizinha de cima (que cavalga casa fora de sapato de salto alto à uma da manhã)? Dois coelhos, uma cajadada e tal.

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  7. Anónimo14:10

    É o castigo de abandonar a margem sul!

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    1. Já vivi em muitó lado mas na Margem Sul ainda não.

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    2. Anónimo15:21

      Castigo por nunca ter morado na margem sul?

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  8. Felizmente não tenho formigas, mas tenho no parepeito das janelas pequeninas aranhuças que quando mortas deixam mancha vermelho sangue! É horrível, só limpando e colocando pó é que elas deixam de aparecer, por uns dias.

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    1. E que pó mágico é esse? Será que também dá para as (minhas) formigas?

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  9. Anónimo21:17

    Tenho uma palavra para ti: vinagre. Não há outra forma de te livrares delas.

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    1. Eu tenho outra para ti: aonde? E em que quantidade? (afinal tinha mais)

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    2. Anónimo00:10

      Em cima das formigas. Compras um borrifador, enches com vinagre, através dos spray, em cima das formigas e bye-bye. O melhor é que não te dá cabo da madeira (se for caso disso).

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  10. Se descobrires podes dizer-me sff, tenho o mesmo problema na minha casa, até à ração da minha gata vão... Enfim!

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