segunda-feira, 26 de maio de 2014

Last woman standing. In green.

Quem me conheceu na infância apostaria um rim que daquele gafanhoto desajeitado sairia a futura bibliotecária do concelho.

Não estou a falar de aparências, apesar de reconhecer que não era o fruto mais atraente da colheita. Os óculos, o cabelo sempre atado num rabo de cavalo, o uniforme do colégio. Tudo a conspirar para que me tornasse invisível.

Sempre consciente dos desafios externos, a timidez ao primeiro impacto fazia com que me transformasse numa parede de azulejo se estivesse em frente a uma parede de azulejo. Um camaleão social. Uma nódoa.
Uma geek.

O que ficava - e que ainda vejo em fotografias antigas - era a miúda de nariz enfiado num livro. Sempre de nariz enfiado num livro.
Para onde eu ia, eles iam. Aventuras, romances, mistérios, quadradinhos.
Eu estava, eles estavam comigo.
Praia, viagens, quarto, café, intervalo do cinema. Devorava-os à velocidade que os tinha.

Quem tivesse que adivinhar, adivinharia um futuro sombrio.
E a julgar pelas aulas de educação física para as quais me arrastava pesadamente, e pela infame gazeta que passei a fazer à ginástica rítmica (já se adivinhava um pequeno espírito rebelde), dir-se-ia que aos 20 anos estaria um cachalote, aos 25 um mamute e aos 30 a passear pelo shopping numa coisas destas.


Mas acontece que nem sempre o que parece que vai ser, é.
E um dia, sabe-se lá porquê, a miúda começou a mexer-se (e a falar dela na terceira pessoa, como um jogador de futebol).

Operou os olhos, guardou os livros na mesa de cabeceira e fez caminhadas e andou de patins em linha e arriscou o ski e fez mergulho. Aprendeu a andar de bicicleta sozinha. Ficou com os tornozelos em sangue, mas nunca desistiu.

E quanto mais se mexia, e mais percebia que a geek que era podia conviver com a miúda em que se estava a tornar, menos medo tinha de experimentar coisas novas. E então correu quilómetros, viu glaciares no topo de montanhas que demoram dias a subir, mergulhou em cavernas onde as garrafas batem no teto, desceu pistas vermelhas em cima de mini-skis, e bebeu água da torneira no meio de África.
E gostou.

Desistir não é opção. É um conceito que não me assiste.
Já desisti de pessoas (de poucas e sempre e só no limite das forças) mas de mim, nunca.
Nunca pensei que não fosse capaz. Nunca achei que, se eu quisesse mesmo, MESMO, não conseguiria.

Tenho dentro de mim uma força que me faz acreditar que se estiver numa praia e vier um tsunami, eu vou sobreviver. Pendurada numa palmeira, cabelo colado à testa, duas mamas fora do bikini e a chorar baba e ranho pela mamã - mas lá estarei, pronta para tudo.

E é por acreditar tanto nisto, que ontem comprei uma sacada de brócolos. Esse legume do demónio. E juro-vos aqui - eu seja ceguinha e todas essas coisas - que os vou conseguir comer todos.
E sorrir no final.
Com metade de um dente coberto de verde.
Cheia de charme.

Como a geek que no fundo, bem lá no fundo, ainda sou.



13 comentários:

  1. Voltámos aos pequenos Hulks a saírem pelo cu? É que consta que os bróculos não são o vegetal melhor para isso... Se calhar eu revia esses legumes... :)

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    1. Nada disso. O detox já lá vai. E o brócolo diz que é amigo. Vamos dar-lhe uma oportunidade.

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  2. A gargalhar à maluca por dentro e em silêncio (porque estou no escritório a trabalhar e não posso fazer demasiado barulho...)

    x'D

    Come tudo que tem muito cálcio e ferro! Iron Woman ah!?

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    1. Bolas. Fui descoberta. Lamento, mas vou ter que te silenciar. Por favor não resistas. Isto vai doer imenso.

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  3. E olha que essa cor fica-te bem...verdinha!

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  4. Uniforme e rabo de cavalo? Like :)

    Agora a sério, cozes os gajos a vapor para manterem a cor e continuarem verdinhos durante 10/15m e depois salteia-os em azeite e alho pouquinho tempo.
    Um pouco de sal.

    Done.

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    1. Maravilha. Receitas de panda para cozinhar legumes diabólicos :-)

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  5. E muito bem, essa redescoberta interior dá gosto à vida! e a vida é para "ser vivida"

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  6. Ahahahah muito bom! Eu gosto de brócolos... (isso torna-me autora de comentários do demónio??) O que odeio mesmo são couve de Bruxelas, isso sim sabe a gosma verde do filme o Exorcista...
    Uma mulher de coragem (e mesmo de sonho) não vai ser travada por este obstáculo, tenho a certeza! Go for it!
    :))

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    1. Ui, Inês. Nem me fale disso!!! O que eu sofri com essas sonsas dessas couves! Coisinhas tão lindas por fora e tão horrorosas por dentro!
      Não vou desistir. Jamais :-D

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  7. Os bróculos são dos melhores vegetais que podemos comer. Têm muito cálcio (mais do que o leite) e muito ferro. São uma óptima escolha. :)
    Conheço vários casos como o teu...de patinho feio passam a um ganso lindo. :)
    beijinho

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