quarta-feira, 26 de março de 2014

Sou tão mulher #4

Sei quando está na altura. Sinto na forma como se comporta, nos jeitos que tem ou nos que não tem. Parece mais pesado e acusa a passagem do tempo. Às vezes é uma necessidade, outras simplesmente uma vontade.

Há quem seja ferozmente fiel ao que sabe que resulta. Há quem seja profissional da mudança. Há quem o faça de forma radical - o fim de um relacionamento é um grande clássico.

Seja em que circunstância for, uma coisa é certa: nenhuma mulher vai cortar o cabelo de forma casual.

Não somos como tantos homens, que passam descontraidamente à hora do almoço no barbeiro. Não. Para nós, se envolve tesouras, é assunto sério.

O “só dois dedos” deve ser a expressão mais ouvida em cabeleireiros. Logo seguida de “só um dedo”, “só as pontinhas” e de “posso ver esta, ou ainda está a ler?” (revistas cor-de-rosa sabem melhor com cheiro a laca - é cientifico).

Queremos sempre cortar o mínimo indispensável. Não queremos estar ali mas cabelo espigado não é vida. Se houvesse uma cola que fechasse as putas das pontas, era ver-nos no site da UHU a encomendar às cinco caixas de cada vez.

Desenvolvemos uma anorexia capilar quando vemos o cabelo caído à volta da cadeira: são meia dúzia de fios mas nós vemos cabelo suficiente para recriar a trança da Rapunzel. Secretamente detestamos a nossa cabeleireira porque sabemos que encarnou o Eduardo Mãos de Tesoura e fez um massacre na nossa cabeça.

Ficamos chocadas quando mais ninguém assinala a chacina de que fomos alvo. Dos homens, estamos mais ou menos à espera. Perguntamos se não notam, mas mais para fazer género. Não temos grandes expectativas enquanto não der para colar mamilos ao couro cabeludo.

Mas, e as colegas de trabalho, e as amigas, e o amigo gay? Como é que não se unem na nossa dor, carpindo o cabelo assassinado? Como podem dizer que mal se nota, se ainda no duche dessa manhã sentimos que estávamos praticamente carecas? Somos vítimas, caramba, vítimas!

Também há momentos em que o fazemos cheias de ganas, a apontar para revistas, a invocar famosas, a gesticular no ar, num desespero para garantir que teremos o que imaginámos. Precisamos de uma mudança e vamos tê-la na base da tesourada.

Às vezes a culpa é das modas, como foi recentemente a da franja. Andava tudo de persiana corrida até aos olhos mas eu nunca tive coragem. Uma franja é demasiado compromisso para uma alma livre como a minha.

Há vinte anos eram as permanentes. Dizia-se que secava as raízes e dava volume. Eu acho que só serviu para assustar quem se vê em fotografias dessa altura.

Tenho uma amiga que se separou e que aparentemente deu a custódia do seu longo cabelo ondulado ao marido. Um dia chegou ao pé de mim com o mesmo corte que o Vítor Gaspar. “Precisava de uma mudança” dizia-me ela, entre um lábio a tremer e um par de olhos suplicantes por conforto. Não pude mentir. Nestas coisas do cabelo, sou muito mulher mas também sou muito homem. Gosto de ver uma mulher de cabelo comprido. Acho mais feminino.

Dirão que há mulheres muito sexys com quatro centímetros de cabelo. E eu concordarei. Mas tenho para mim que são felizes exceções. Pela parte que me toca, sei que pareço uma lésbica pouco convicta. E sei isto porque em tempos fui a um cabeleireiro que não conhecia e cometi o pecado capital de lhe dar carta branca. Nunca mais lá voltei. Conto-vos um dia. Quando as feridas da alma sararem.

Saibam portanto que na próxima semana vou cortar o cabelo.
Só dois dedos.
 


Se estiverem a planear o mesmo e a coisa vos correr muito mal, ou se forem simplesmente apaixonados por chapéus, como esta Mulher de Sonho que vos escreve, não deixem de visitar a chapelaria D'Aquino.

Chapéus há muitos, já sabemos. Mas se quiserem chapéus de qualidade, muita variedade e preços justos, encontram-nos nesta loja da Baixa de Lisboa.


Há para homens e para senhoras, de Inverno e de Verão. Fui lá no fim-de-semana para trocar um chapéu que me tinham oferecido. Saí de lá com três.

Sou uma besta consumista.
E, pelo sim, pelo não, fico já prevenida.


3 comentários:

  1. Eu não sou gay, nem sou gaja... E tanto a T como as minhas colegas de trabalho sabem que podem sempre contar com um comentário sempre que dão um jeito no cabelo.

    E compreendo a cena do cabelo curto. A ex usa(va)-o assim e ficava-lhe bem. Melhor que comprido, que fizemos o teste. Ou melhor, ela fez para eu confirmar, que eu sou teimoso e quis ver!

    Eu sou fã de cabelos compridos. Miss T. usa o cabelo ligeiramente abaixo dos ombros e sempre que pensa em ir cortar o cabelo tremo de medo. No entanto não me imiscuo nas vontades/necessidades dela, senão arrisco-me a passar a noite na banheira ou no sofá e confesso que sinto um carinho especial por aquele colchão, as almofadas e o edredon...

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  2. Apesar de ser tão "gaja", essa é das poucas coisas que não me incomoda... Mudar o cabelo. Desde de côr, a cortes, acho que já passei por tantas fases, que mais uma, menos uma, não me incomoda nada. Agora, se pedir para cortar de determinada maneira e cortarem diferente, aí sim... O bicho pega!

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