quarta-feira, 16 de outubro de 2013

Casa nova, inferno privado

Procurar casa para arrendar é como andar nos campos minados de África. É terreno hostil onde com a maior facilidade podemos ser derrubados por algo tão insuspeito como uma casa-de-banho com azulejos dos anos 70 ou por um casal com dois filhos ranhosos, um peixe e mais 15 euros para oferecer por mês.
Sites de imobiliárias, sites de arrendamento, páginas de Facebook, emails de amigos, telefonemas da Remax, da Century XXI e do Vão de Escada, quando eu nem me lembro de lhes ter ligado a eles. Caramba. Eu só quero uma casa com cachet que encaixe no meu cachet (tão desnecessário mas agora já está – deal with it).
Já lhes adivinho as manhas todas. Aprendi, por exemplo, que há pelo menos um médico e/ou um advogado em todos os prédios. Em todos. Não há uma casa com vizinhos que põem a tocar kuduru às sete da manhã de sábado e que só desligam no domingo à noite para ver a Casa dos Segredos. Não há. As prostitutas que recebem em casa recebem todas noutro bairro. E é frequente que, em cima de uma lista telefónica (há quanto tempo não vejo eu uma coisinha destas), apoiada num banco alto, no telhado do prédio, se consiga ver um bocadinho de mar. Mais 50 euros de renda! Pumba!
Tenho pelo menos o consolo de saber que vou animando a cena do imobiliário nas minhas zonas-alvo. Sim, que eu bem vejo o brilho nos olhos dos arrasados agentes imobiliários quando me veem chegar lá ao longe. Desgraçados, que passam horas num frenesim de sobe-e-desce de casas miseráveis a tentar encontrar formas criativas de nos fazer acreditar que aquela toca é a toca com que sempre sonhámos. “Acolhedor” e “simpático” são adjetivos para me fazer fugir imediatamente na direção contrária. Mas sei de fonte segura que ainda há quem caia. Meninos.
Enquanto percorro os corredores que gemem pela minha presença, bem os vejo a tentar cheirar-me o perfume, de língua de fora, a perguntar pateticamente “A casinha é só para si?”. Sim, meus queridos, a casinha é só para mim mas também acolherá os felizardos que eu deixar entrar no meu mundo - um de cada vez, que sou de sonho mas não sou galdéria.
Depois de dar alegrias ao mundo da ginecologia entrando-lhes no gabinete com tudo isto (coitados, horas de vida a ver pipis mal cheirosos e cuspidores de matérias peganhentas - merecem!), e depois de proporcionar matéria para semanas de pensamento masturbatório ao pessoal do arrendamento, o que se seguirá para a Mulher de Sonho?
Retalhistas da Zara Home e da Area, será a vossa vez? Tremam de alegria. Ordeno-vos!




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