Lembram-se da formação de Primeiros Socorros de que falei
aqui? Amanhã tenho teste. Ponto - como se dizia na escola.
E porque acho importante fazer revisões, e como este é um tema que pode salvar vidas, aqui fica uma amostra muito piquena do que se aprende numa formação destas. São umas quantas ideias genéricas, só para vos abrir o apetite.
Estudar Primeiros Socorros devia ser obrigatório.
Não precisam de agradecer.
1. Queimaduras
Se se queimarem em casa (no forno, no ferro, no óleo, na vela que era para ser romântica mas que vos deixou a praguejar como um estivador) não vão a correr deitar manteiga ou gelo ou azeite.
Ponham a zona queimada debaixo de água corrente até passar a dor. Até passar. Não há tempo definido. Vão estar a interromper o processo de queimadura e a evitar que continue a fazer estragos em zonas mais profundas.
Se não fizer bolha, é de primeiro grau. Pode ser tratada em casa, com Biafine ou Bepanthene.
Se fizer bolha, vão ao hospital ou ao posto médico. É de segundo grau e queimou epiderme e derme.
Não se atrevam a rebentar as bolhas! A menos que queiram abrir-se a novas experiências. Daquelas más.
E a propósito: agora que anda tudo feliz a tirar o pó às sandálias e que a ocasional bolha aparece - que aparece - nada de alfinetes ou de agulhas aquecidas. Se estiver mesmo cheia e pronta a rebentar, prantem-lhe um Compeed. Nunca falha! Ficam com pés de princesa.
Se a queimadura for mais profunda, de terceiro grau, pode deixar a pele tipo couro. Não há dor porque as terminações nervosas faleceram. Not good.
Se no casamento da prima lá da terra, o padrinho do noivo - já de camisa para fora das calças e meio de lado - acabar o Apita o Comboio em cima de uma tocha, não o deixem correr. Isso só vai alimentar o fogo e é uma corrida que ele vai sempre perder. Para extinguir as chamas é fazerem-lhe uma placagem e rebolá-lo no chão. Até apagar.
E depois pedir os talheres de trinchar e servir com caldo verde, broa e batatinha frita.
2. Intoxicações
Se alguém sofrer uma intoxicação ou estiver exposto a um veneno ou picada de animais (melga não conta, a menos que seja uma melgzilla), liguem para o CIAV (Centro de Informação Antivenenos). O número é o 808 250 143 e quem atende do outro lado são médicos que saberão indicar a melhor forma de atuar.
Se a intoxicação for com medicamentos, guardem as caixas e/ou as lamelas. Se não as encontrarem, espreitem no lixo ou nas janelas. Quando não é acidental, é frequente serem deitadas fora. Saber o que foi tomado e em que quantidade, pode fazer a diferença.
Se for por ingestão, nunca provoquem o vómito. Se fez estragos a descer, não queremos que os repita a subir.
Se for na vista, é lavar com água corrente durante 15 minutos, evitar fechar os olhos e seguir para o hospital. Nada de soro. Água é o melhor.
Atenção aos produtos de limpeza em zonas onde as crianças têm acesso. As embalagens são (estupidamente) coloridas e apelativas. Um miúdo não saberá distinguir o Skip de um batido.
Cuidado também para não juntarem tudo o que é para manter fora do alcance num mesmo sítio. Tipo o pesticida ao lado do xarope para a tosse. Não.
3. Crise convulsiva
Se assistirem a uma crise convulsiva (quem é que não viu o Poltergeist?) não tentem conter a vítima. A tendência é frequentemente essa. Mas não o façam. Os movimentos são involuntários e podem magoar a pessoa. Procurem, sim, afastar objetos onde se possa aleijar e protejam-lhe a cabeça e os membros.
Nada de pôr coisas na boca, para prender a língua. Mais depressa fazem obstruções com isso do que se engasgam na língua.
Quando terminar, nem pensem em dar copinhos de água ou bolachinhas. Pois se eu, sem espasmos, não consigo comer uma bolacha de água e sal sem ficar com meia bolacha feita em papa colada ao céu da boca - imaginem depois de andar aos saltos, a espumar.
4. Reação alérgica
Se forem à praia e a mãe Natureza vos brindar com um abraço de alforreca, nada de andar a fazer xixi para cima uns dos outros. Seus porcos. É mergulhar a zona afetada em água fria. E ter calminha. Homens, não vão morrer disso.
Se a coisa for mais intensa e os mimos tiverem sido de peixe-aranha ou de ouriço (malta mais antipática) é o contrário: mergulhar a zona afetada em água quente. E tirar os picos num serviço médico.
Não deixem que a vossa Tia Alcina se ponha com ideias. "Ai e tal, a tia trata". A tia vai bordar um pano de tabuleiro ou fazer um pudim, que é a especialidade dela. E vocês vão tratar disso com quem sabe, no centro de saúde ou no hospital. E depois comem o pudim e levam o que sobrar para casa, porque estão cheios de dores e ela não vai ter coração para dizer que não. Aprendam, que eu não duro sempre.
Havia tão mais para vos contar.
Se gostam do tema, sugiro que vejam os vídeos do INEM no YouTube. Podem encontrá-los
aqui. A interpretação é uma comédia mas as situações são dramáticas com picos de ação. Entretenimento com aprendizagem.
Se tiverem filhos com idade para isso, vejam com eles. Os miúdos alertados para estas questões podem um dia salvar-vos a vida.
Se já souberem ler, não é má ideia ter um papel com a vossa morada, junto ao telefone de casa. Se um dia se sentirem mal e eles ligarem o 112, vão precisar de dar essa informação. E olhem que é muito frequente eles não saberem.
Em situação de emergência, cinco minutos podem ser a diferença entre voltar a ver o Ronaldo a marcar pela seleção ou trocar impressões técnico-táticas com o Eusébio.
Vejam lá isso.